Há alguns dias atrás o governo anunciou que irá reunir dados pessoais de Brasileiros em uma base de dados chamada Cadastro Base Cidadão. Serão reunidos dados como CPF, data de nascimento e filiação, que virão de diversos órgãos públicos. Porém, além desses citados, está previsto também o cadastro de outras informações como a íris dos olhos, voz e jeito de caminhar.
A primeira vista isso pode parecer algo bem intencionado. Com essas informações sistematizadas o governo poderá investir melhor e de forma mais assertiva em políticas públicas. Porém, há problemas maiores e mais preocupantes por detrás da boa intenção.
Imagine que estamos em uma era em que a discussão sobre privacidade de dados tem se mostrado cada dia mais importante. Eventos inteiros dedicados a encontrar soluções, gigantes da tecnologia da informação em busca de alternativas, leis de proteção de dados sendo criadas, tudo isso porque entende-se que quem detém a informação detém também o poder. A ideia é que, em um futuro próximo, somente o indivíduo possua suas próprias informações.
Agora pense, se o governo obtiver todo tipo de informação sobre a população em uma base de dados controlada por ele, isso é um risco enorme a qualquer pessoa. O estado pode controlar todas as suas ações. Se a Cambridge Analytica conseguiu manipular uma eleição, o que fariam conhecendo até mesmo seu DNA? E o mais preocupante: você não terá controle algum sobre essas informações. Você não poderá simplesmente negar o acesso a esses dados.
Estamos passando por um governo que é controverso e delicado. É de extremo risco ele deter acesso à dados tão sensíveis como esse. E seria em qualquer um, independente de país ou ideologia. E também tem a questão de segurança dessa base. E se ela for invadida? As pessoas contratadas para desenvolver essa base de dados tem know how suficiente para torná-la segura? Até o momento não temos essas informações disponíveis. Somente nos disseram que vão coletar nossos dados.
Temos que, a partir de agora, questionar essa medida e ser mais vigilantes ainda. Nossos dados são nosso bem mais valioso. E devemos guarda-los as sete chaves. Em mãos erradas, nos tornamos fantoches. E a realidade é que já somos. Estamos tentando ter autonomia, e esse acontecimento vai de contramão a maré de evolução da privacidade de dados.